ESPORRA, VOCÁBULO INJUSTIÇADO
Muitas gajas me têm dito: "Mmmf, pmnngnn gnff mmlmn mmlgnf." E depois eu tiro-lhes a pichota da boca e finalmente percebo que o que estão a dizer é: "Ó Pipi, esporra é uma palavra muito feia." E eu contraponho: "Está bem. Também o zé tolas é feio e tu gostas que eu to enfie no gasganete conal." A verdade é que a palavra "esporra" é o patinho feio da ordinarice. É importante descobrir, sob a fonética áspera e rude, o vocábulo que merece ser acarinhado. "Esporra" resulta, provavelmente, da aglutinação da palavra grega "sporá", que significa semente, com a palavra "porra", que significa caralho. Tendo presente a origem etimológica, a beleza do termo é mais fácil de perceber. A palavra "esporra" tem, aliás, o seu quê de picaresco, na medida em que, para muita gente, a fealdade do significante prejudica a reputação do significado. Explico-me melhor, para os estúpidos: a esporra em si, substância que o nabo esguicha, sofre com a torpeza da palavra que a designa. Ora, o que defendo é que nem a esporra nem a "esporra" merecem menosprezo. A "esporra" tem uma beleza bruta, de que se aprende a gostar, e a esporra, quando gargarejada, faz bem às cordas vocais. E isto explica a voz cristalina de alguns dos nossos cantores.
By Helder "Kiku" Correia [ ] * *
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